Opusflex

1 de abr de 20194 min

Design completa 100 anos de idade

Logo após o fim da primeira guerra mundial em 1919, ano em que a Alemanha assinava o humilhante Tratado de Versalhes, nascia dentro do movimento modernista alemão, a semente do que viria a influenciar desde a arquitetura das fábricas até o desenho dos icones do seu smartphone. Liderados pelo arquiteto Walter Gropius, em Abril de 1919, era lançado na cidade de Weimar (considerada a Atenas da Alemanha), o manifesto da Bauhaus (leia integra no final do post).

A ação deles provocou alterações duradouras na história da arquitetura e das artes em geral. Criava-se então, a aliança entre a estética e a tecnologia, entre o artista e a indústria.

Até então, artistas e artesãos atuavam em universos diferente . Os artistas, se viam como um espécie de aristocratas das belas artes, enquanto os artesão, humildes, se viam no máximo como Hefesto, o deus corcunda da forja que, infeliz, forjava o ferro na bigorna, suando em meio às labaredas e às ferramentas ardentes.

Um dos primeiros propósitos da fundação da Bauhaus, em abril de 1919, foi a superação desse estigma através da educação do "artista-artesão", tornando o aluno capaz de conceber um objeto esteticamente relevante e ao mesmo tempo executá-lo em conjunto com outros profissionais.

Com esta premissa, o jovem arquiteto Walter Gropius, providenciou a fusão da Escola de Artes e Ofícios (a Kunstgewerbeschule), com a Escola de Belas Artes (a bildende Kunst), formando a célebre Bauhaus.

Vale lembrar, que o pós primeira guerra, lançou sobre a humanidade uma desconfiança a cerca da tecnologia, varrendo para debaixo do tapete a visão positivista de futuro, vivenciada no século 19. Os intelectuais da época, passaram a abominar a tecnologia. Mas a visão da Escola Bauhaus, era de que a mesma tecnologia que causou destruição, deveria reerguer a Alemanha, com aço, cimento e vidro.

Para isso, a escola adotou uma estética que representasse o domínio da tecnologia, com o uso de formas geométricas e total despojamento decorativo. Algo que gerou mau estar na Alemanha, por se parecer com o "novo mundo", em especial aos Estados Unidos.

Este rompimento com o passado Barroco e à Art Nouveau, arrefeceu paixões extremadas, como o patriotismo e o nacionalismo exacerbado, presentes na primeira guerra. Tal posicionamento da escola, viriam a colocar a escola em "rota de colisão", com os objetivos do "Führer", anos depois.

Após os primeiros anos em Weimar, a Bauhaus, mudou-se para Dessau em Fevereiro de 1925. O principal motivo da mudança, deveu-se ao governo local (nas mãos de partidos ultra-direitistas), acreditar que a escola traia aos "valores nacionais e a germanidade", e que tais movimentos "sufocavam a massa saudável de jovens artistas alemães". Alem é claro, de acusar a escola de "Kulturbolchevismus", ou em termos modernos "Bolchevismo Cultural".

Em Dessau, ergueu-se o icônico edifício da escola, influente até os dias atuais. Tal construção, abrigava tanto o prédio principal (onde se davam as aulas), bem como uma série de outros edifícios (oficinas e habitação dos estudantes), fazendo representar-se a "integração arte-artesanato" também no conjunto arquitetônico.

Deste local, "nasciam" dos atelies da escola, os móveis com design futuristas, confeccionados em couro, plástico, madeira e aço, que encantam até hoje os olhares atentos de arquitetos, designers e decoradores, com o estilo funcional, que marcou a escola.

A partir de 1930, com o avanço do partido nazista, a sobrevivência da escola ficava comprometida. O partido propôs a demolição do prédio da Bauhaus, pois a via como um "centro artístico hebraico-marxista" denominando-a, como "Catedral do Socialismo".

Finalmente, em 20 de julho de 1933, (apenas seis meses após a ascensão de Hitler ao poder) a escola Bauhaus teve suas oficinas e salas de aula fechadas definitivamente.

Ao seu corpo docente, restou apenas o caminho do exílio. Atravessando o Atlântico, o "estilo Bauhaus", aclimatou-se facilmente no "Novo Mundo", impulsionando diversos movimentos modernistas do século 20 (inclusive no Brasil, com seu clímax, na semana da arte moderna de 32).

O Manifesto:

“O fim último de toda a atividade plástica é a construção. Adorná-la era, outrora, a tarefa mais nobre das artes plásticas, componentes inseparáveis da magna arquitetura. Hoje elas se encontram numa situação de auto-suficiência singular, da qual só se libertarão através da consciente atuação conjunta e coordenada de todos os profissionais. Arquitetos, pintores e escultores devem novamente chegar a conhecer e compreender a estrutura multiforme da construção em seu todo e em suas partes; só então suas obras estarão outra vez plenas de espírito arquitetônico que se perdeu na arte de salão.

As antigas escolas de arte foram incapazes de criar essa unidade, e como poderiam, visto ser a arte coisa que não se ensina? Elas devem voltar a ser oficinas. Esse mundo de desenhistas e artistas deve, por fim, tornar a orientar-se para a construção.

Quando o jovem que sente amor pela atividade plástica começar como antigamente, pela aprendizagem de um ofício, o "artista" improdutivo não ficará condenado futuramente ao incompleto exercício da arte, uma vez que sua habilidade fica conservada para a atividade artesanal, onde pode prestar excelentes serviços. Arquitetos, escultores, pintores, todos devemos retornar ao artesanato, pois não existe "arte por profissão". Não há nenhuma diferença essencial entre artista e artesão, o artista é uma elevação do artesão, a graça divina, em raros momentos de luz que estão além de sua vontade, faz florescer inconscientemente obras de arte, entretanto, a base do "saber fazer" é indispensável para todo artista. Aí se encontra a fonte de criação artística.

Formemos, portanto, uma nova corporação de artesãos, sem a arrogância exclusivista que criava um muro de orgulho entre artesãos e artistas. Desejemos, inventemos, criemos juntos a nova construção do futuro, que enfeixará tudo numa única forma: arquitetura, escultura e pintura que, feita por milhões de mãos de artesãos, se alçará um dia aos céus, como símbolo cristalino de uma nova fé vindoura."


 
Walter Gropius (Weimar, abril de 1919)

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