No último post, nossa jornada chegou até os primórdios dos anos 1900, feita uma pequena parada para a primeira guerra mundial, retomamos a história das cadeiras nos anos 1920 no meio do Reino Unido....
CONFORTO PARA OS BEBES E PARA AS MÃES NO TRABALHO
Após desencorajar a indústria americana em produzir cadeiras de escritório confortáveis, no início dos anos 1920, a Europa (tendo deixado para trás as ideias Vitorianas), assistia (por conta da primeira guerra mundial), o aumento do número de mulheres trabalhando em fábricas e escritórios. Vivenciava também, um aumento de "reclamações trabalhistas", causadas pela má postura. A indústria Europeia precisava desenvolver cadeiras para o trabalho que apesar de simplistas (graças ao "espírito espartano do pós-guerra"), fossem ergonomicamente corretas e confortáveis.
Inspirados nas recém criadas escolas de design, (que juntavam o conhecimento dos artesãos ao uso de maquinários que possibilitavam a produção em larga escala), "nasce" em Birmingham (berço da revolução industrial), um "versátil" fabricante, chamada Tan-Sad.
A Tan-Sad, iniciou suas atividades em 1922 vendendo mesas de datilógrafas, brinquedos, triciclos, carrinhos de bebes e cadeiras para escritório. A Tan-Sad ficou tão famosa, que seu nome tornou-se sinônimo de carrinhos para bebes.
Mas carrinhos de bebe à parte, a nossa "estrela" de hoje é a icônica "cadeira maquinista". Produzida em larga escala nos anos 1930, competia com outros famosos fabricantes que existem até hoje, como a Evertaut.
Créditos da Imagem: https://www.gracesguide.co.uk/Tan-Sad_Chair_Co_(1931)
O design da cadeira maquinista, fazia uso dos abundantes tubos de aço, produzidos em escala industrial pós primeira guerra mundial. Aviões, automóveis, camas, carteiras escolares, barracas, etc.... onde fosse possível usar um tubo de aço, pode ter certeza que ele estaria lá. As cadeiras Tan-Sad, são icônicas, tanto no uso de tubos de aço na construção da sua base, bem como, no uso de materiais compostos em seu assento e encosto. A cadeira maquinista, utilizava no assento e no encosto, papelão vulcanizado, que além de ser moldado ao formato do corpo, era ao mesmo tempo resistente e flexível no uso. O material usado na construção do assento e do encosto, podia ser facilmente usinado e ainda suportar o peso de uma pessoa. Sem estofamento, a cadeira era facilmente limpa com um pano úmido, além de resistente ao fogo. Características ótimas de uma "cadeira para uso em fábricas".
As principais características das cadeiras maquinista Tan-Sad, eram os assentos giratórios com ajuste de altura, coxins de borracha para fixação do encosto, uso de papelão resinado e hastes de ligação do assento ao encosto com movimento de mola.
Há muito pouco documentado sobre as cadeiras maquinista Tan-Sad, embora o modelo das fotos seja um dos mais conhecidos, existiam outras versões de cadeiras desse fabricante Britânico, e como não faz tanto tempo assim que essas cadeiras foram produzidas, ainda podemos encontrar exemplares em ótimo estado de conservação, assim como outros itens produzidos por essa icônica empresa "perdidos" por ai.
AS CADEIRAS DO PÓS SEGUNDA GUERRA
ANOS 50 E 60, FINALMENTE A HORA DE PARECER "DESCOLADO"
Os primeiros trabalhos produzidos sobre ergonomia, datam dos anos 1700, quando o médico Italiano Bernardino Ramazzini, visitava os locais de trabalho dos seus pacientes, no intuito de identificar as causas de seus problemas. Porem, somente durante a segunda guerra mundial, percebendo que mesmo os melhores aviões, conduzidos pelos melhores pilotos, eventualmente caiam, por "erro humano", um tenente do exército americano chamado Alphonse Chapanis, percebeu que o número de acidentes poderia ser reduzido, projetando controles mais lógicos e diferenciáveis, em substituição aos confusos projetos das cabines dos aviões.
Terminada a segunda guerra, todo o conhecimento desenvolvido na área militar, migrou para o uso civil, e os pesquisadores usaram os princípios ergonômicos de design das cabines de aviões, na melhora dos locais de trabalho, em especial das cadeiras. Infelizmente, assim como à 100 anos atrás com as cadeiras patente, nem os designers, nem o mercado, estava interessado em projetos de cadeiras pensadas para o corpo humano. Novamente a estética vencia a ergonomia, e os americanos não mais se interessavam pelos grandiosos projetos europeus, mas sim em cadeiras elegantes, como a da cadeira "Esteirinha" desenhada por Charles e Ray Eames em 1958. Era o início do movimento modernista, também no mobiliário corporativo.
Créditos da imagem: Eames Aluminum Group - Office Chairs - Herman Miller
ANOS 70 FINALMENTE A ERGONOMIA ENCONTRA O DESIGN
"Qualquer nova tecnologia, é irrelevante, até que algum designer a adote e a torne sexy".
Nos anos 1970, alguns designers industriais norte americanos começaram a se interessar por princípios ergonômicos. Dois importantes livros, escritos por designers, o "Measure of Man" de Henry Dreyfuss e "Humanscale" de Niels Difrient, adaptaram as complexas definições descobertas por ergonomistas em algo acessível para os demais designers.
Ambos foram amplamente criticados na época, por terem simplificado demais os conceitos de ergonomia, porem, o fato é que tanto o livro de Dreyfuss, quanto o de Niels, são até hoje referência nos projetos.
Independentemente das críticas, esses livros deram início ao desenvolvimento das cadeiras modernas de escritório. O próprio Diffient, juntamente com outros designers, desenvolveu formas de aplicar tais pesquisas, testando diversas maneiras de apoiar os contornos do corpo com uso de espumas de poliuretano moldadas nos mais variados formatos.
Após mais de 20 anos de estudos e experimentos na Universidade de Wisconsin, em 1974 Stumpf é convidado pela Herman Miller, para desenvolver uma cadeira ergonomicamente correta, que levasse em consideração fatores como a postura, circulação sanguínea e ergonomia.
O resultado da colaboração de Stumpf com a Herman Miller, foi a cadeira Ergon, lançada em 1976.
Embora os especialistas em ergonomia, não considerem a cadeira Ergon um "primor" da ergonomia, pelo pouco uso de partes móveis e ajustáveis, o fato é que todos concordam que o uso revolucionário e radical de espuma moldada, difundiu para um público mais amplo, o conceito de ergonomia nas cadeiras de trabalho.
No mesmo ano, como uma resposta à cadeira Ergon e aqueles que à criticavam por possuir poucas regulagens, surge a poltrona "Vértebra", criada por Giancarlo Piretti e Emilio Ambasz.
Segundo o Metropolitan Museum of Art, "a cadeira Vertebra é a primeira cadeira de escritório automaticamente ajustável, projetada para responder e se adaptar aos movimentos do corpo do usuário". A cadeira ganhou o premio ID de Excelência em Design e seus criadores alegam que outros especialistas em cadeira, já haviam alcançado as mesmas funcionalidades décadas antes, o que é verdade, porem, nenhum deles havia conseguido de maneira tão elegante, como na cadeira Vértebra. E mesmo que hoje a cadeira pareça "datada", é inegável que ela tinha estilo.
Destas últimas cadeiras, é bem provável que algum de vocês já tenha usado alguma delas, ou até mesmo esteja pensando em comprar uma delas. Mas segura ai, porque no próximo post, falaremos das cadeiras icônicas disponíveis para compra atualmente.
REFERENCIAS
http://www.slate.com/articles/life/design/2012/05/ergonomic_office_chairs_a_visual_history_photos_.html
https://en.wikipedia.org/wiki/Centripetal_Spring_Armchair
https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/188120
https://merchantandfound.com/tan-sad-from-pushchairs-to-furniture/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ergonomia
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